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Pioneirismo

Primeira turma de Letras/Libras da UFT recebe outorga de grau

Por Virgínia Magrin | Publicado: Quarta, 13 de Fevereiro de 2019, 12h02 | Última atualização em Quinta, 14 de Fevereiro de 2019, 10h17

A Língua brasileira de sinais (Libras) é a principal forma de comunicação para a maioria das pessoas surdas no país e é usada por cerca de 5 milhões de pessoas no Brasil. Pensando nisso e tantos outros desafios enfrentados pela comunidade surda, a UFT foi pioneira no estado em criar o curso de Licenciatura em Letras, com habilitação em Libras, no Câmpus de Porto Nacional, em 2015.

Passado quatro anos, na noite da última segunda-feira (11) ocorreu a colação de grau da primeira turma de Letras/Libras do Estado. Na ocasião, oito alunos receberam seus diplomas, entre eles três são surdos e cinco são ouvintes. Além deles, outras duas pessoas também se formaram, mas fizeram a colação em gabinete.

Para o reitor da UFT, Luiz Eduardo Bovolato, o momento simboliza um marco importante para a Universidade, por representar “o pioneirismo na implantação deste curso, a oportunidade dada às pessoas com deficiência auditiva de terem uma profissão e se inserirem no mercado de trabalho, a promoção à inclusão social e a atenção dada a uma demanda por profissionais com esta formação no Estado”.

Emoção

Cristina Alves Diniz estava entre as formandas da noite. Ela, que é surda, destaca o quanto esse momento é especial e emocionante pra ela e toda sua turma. “Somos professores de Libras com formação, aptos a ocupar espaços nas escolas e atender as especificidades dos alunos surdos. O ensino da Libras proporcionará a eliminação de barreiras, disseminando a língua brasileira de sinais. Por isso estamos todos felizes e emocionados, por fazer parte disso!”, comemora ela.

Thallyta Teixeira Silva é ouvinte e também colou grau. Em sua fala – feita em Libras – ela enfatizou que esses quatro anos foram de muitas lutas e desafios, mas que ao final desta etapa só há um sentimento: “Nossa missão principal agora é disseminar a Libras, permitindo a acessibilidade, fazendo com que a comunidade surda exerça seu direito de participação social”.

Na turma há muitas histórias de superação, como a do agora egresso do curso de Letras/Libras de Porto Nacional, João Mendes Filho, que voltou a estudar depois de adulto. “Este é um curso muito importante para nós surdos, de muita qualidade, e que tem a proposta de formar professores de Libras, que possam contribuir com o ensino dessa língua no Tocantins”, pondera João.

Desafios

O coordenador do curso, Renato Jefferson Bezerra Leão é surdo e conhece na pele as dificuldades enfrentadas na formação de alguém com deficiência auditiva, afinal, se não fossem seus pais o incentivando a não deixar os estudos, talvez ele tivesse desistido. Ele sofreu muitas barreiras no ensino, pois as aulas são ministradas em língua oral e há dificuldades em se conseguir intérpretes, sob a alegação de falta de recursos. “Quando soube do curso e da necessidade de ter professores surdos no quadro docente, gostei da proposta e resolvi me mudar para o Tocantins”, explicou ele.

Leão conta que é importante ter referencias surdos no curso e que atualmente, dos 17 professores, nove são surdos e oito são ouvintes. “Temos o desafio de termos salas com surdos e ouvintes, dois públicos que compartilham línguas diferentes. Neste caso, os intérpretes fazem a interpretação da Libras para o português, porque a maioria dos professores  ministram em Libras”, destacou o professor.

Roselba Gomes de Miranda, professora surda da UFT, que é chamada de mãe por todos os alunos surdos, se emociona ao lembrar de sua história: “Cheguei no Tocantins há 13 anos e a ideia que se tinha era que os alunos surdos não tinham capacidade. Hoje cada um dos formandos se tornam modelos para futuros estudantes surdos. Parabenizo a todos surdos e ouvintes pelo esforço na graduação”.

Mercado 

Para quem está de olho em mercado de trabalho o curso de Letras/Libras em Porto Nacional é uma boa opção. O Plano Nacional, Estadual e Municipal de Educação das cinco maiores cidades do estado mencionam a criação de escolas bilíngues como meta, lembrou Bruno Gonçalves Carneiro, que também é professor do curso.

Para ele, a UFT vem se destacando no cenário nacional na formação de professores de Libras a nível de graduação e pós-graduação. “A gente atende demandas de todas as cidades e regiões do estado, além de estados circunvizinhos. O curso tem alunos de dentro e fora do Estado. Esse conhecimento será disseminado. Além disso, a demanda legal para o ensino da Libras em escolas é imensa e  crescente, pois quanto mais espaço o surdo ocupa na sociedade, maior a necessidade de circulação da Libras. Isso requer, cada vez mais, professores de Libras nos mais diferentes espaços”, ponderou Carneiro.

Agora, aos novos e futuros profissionais de Letras/Libras da UFT fica o desafio: “cumprir a demanda legal de ensino de Libras como primeira língua para surdos, como segunda para ouvintes e a organização de escolas bilíngues no Estado do Tocantins, que ainda não existe”, finaliza Leão. Afinal, esses profissionais terão a responsabilidade de disseminar o conhecimento da cultura surda, assumindo postos de trabalhos no estado e municípios, criando metodologias para diminuir a diferença entre surdos e ouvintes.

Confira, abaixo, um dos vídeos da formatura. Outros vídeos podem ser conferidos em playlist própria criada no Canal da UFT no Youtube.

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