Pesquisadores do PPGECS promovem ações de saúde, bem-estar e qualidade de vida a comunidades vulneráveis no Tocantins
Pesquisar para poder levar, na prática, ações adequadas de saúde e bem-estar - que promovam educação, informação e qualidade de vida - a populações vulneráveis: é o que vários cientistas da Universidade Federal do Tocantins (UFT) realizam, há anos, junto a comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas e outros grupos suscetíveis no Tocantins.
À frente de alguns desses trabalhos na instituição, estão, em atuação conjunta, os professores pesquisadores Erika da Silva Maciel e Fernando Rodrigues Peixoto Quaresma, ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Ensino em Ciências e Saúde (PPGECS).
“Trabalhar com comunidades vulneráveis: esse é nosso foco de pesquisa. Embora seja um programa acadêmico, temos uma pactuação, entre os docentes pesquisadores do PPGECS, em garantir a sustentabilidade das nossas ações. Como fazemos isso? Por meio da extensão universitária”, explica a professora Erika.
Os trabalhos de pós-graduação desenvolvidos ou orientados por Erika e Fernando coletam e analisam dados diversos entre as comunidades pesquisadas, trazendo recortes importantes sobre suas realidades de vida e algumas das lacunas presentes, nessas comunidades, em relação ao alcance das políticas públicas.
Mas, o trabalho dos pesquisadores não fica só “no papel”, na academia, nas publicações e eventos científicos. Eles têm, por objetivo maior, culminar seus estudos no devido retorno social aos grupos pesquisados, por meio de iniciativas extensionistas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e de suas comunidades.
“Atendemos desde idosos - como o trabalho do professor Luiz Sinésio na Universidade da Maturidade (UMA), que é o maior projeto de extensão da UFT e, arrisco dizer, do Tocantins - até escolares, quilombolas, pescadores artesanais, população privada de liberdade e pessoas deficientes”, relata a pesquisadora do PPGECS.
Pesquisa e extensão com quilombolas
Desde 2015, Erika Maciel e Fernando Quaresma desenvolvem trabalhos com comunidades quilombolas tocantinenses. “Agora, estamos conseguindo consolidar nossas ações e trazer sustentabilidade para algumas delas”, afirma Erika.
“Naquele ano, o professor Fernando Quaresma estava com uma possibilidade de entrar no doutorado e eu fazia orientações esporádicas com o professor Fernando Adami (em memória), da Faculdade de Medicina do ABC Paulista (FMABC). Juntos, decidimos escrever um macroprojeto para pesquisar comportamentos de saúde em cinco comunidades quilombolas do Tocantins e, para esse trabalho, conseguimos um financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Ainda que com o amparo do financiamento, foram várias as barreiras que tiveram de enfrentar para dar continuidade às pesquisas, relata Érika, especialmente as de ordem geográfica: “as comunidades quilombolas escolhidas para a pesquisa são de difícil acesso e, assim, demandam alto custo para irmos, com toda equipe, para a realização da coleta de dados”, detalha.
Apesar das dificuldades, a pesquisadora destaca o resultado positivo do trabalho realizado: “foi uma parceria muito bacana que, além da UFT e da FMABC, contou também com a participação de pesquisadores do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA)”.
Após a finalização do macroprojeto e do término do financiamento, explica a professora Érika, os pesquisadores envolvidos no estudo decidiram dar sustentabilidade às atividades de pesquisa e extensão em, ao menos, uma das comunidades pesquisadas. “Nesse sentido, a Comunidade Barra do Aroeira foi a atendida, por estar mais próxima da capital Palmas. Durante esses anos todos, viemos desenvolvemos diversas atividades de pesquisa e extensão com toda aquela comunidade”, detalha Erika.
Entre os estudos desenvolvidos com comunidades quilombolas, os que envolvem as crianças dessas comunidades se destacam, uma vez que a literatura acadêmica a respeito ainda é pouca. Nesta revisão bibliográfica ("Scientific evidence on malnutrition in children in Brazilian Quilombola: an integrative review"), Erika Maciel, Fernando Quaresma e outros pesquisadores fizeram um levantamento da literatura científica a respeito da obesidade e desnutrição infantil em crianças quilombolas. "Uma criança quilombola mora longe da zona urbana (em locais de difícil acesso). Por isso, faltam estudos sobre desnutrição infantil e obesidade em crianças quilombolas, o que nos impede de apresentar o cenário atual", afirmam os cientistas participantes deste estudo.
Já neste estudo, intitulado "School dental health education on oral hygiene status in Brazilian Quilombolas: a prospective study", os pesquisadores do PPGECS e outros avaliaram a saúde bucal de crianças quilombolas, na faixa etária de 05 a 12 anos. O grupo de cientistas realizou, ainda, um programa de educação em saúde bucal com as crianças e a comunidade, durante quatro meses. Ao todo, foram feitas oito oficinas na escola da comunidade quilombola participante, que proporcionaram estrutura física e recursos materiais para o seu desenvolvimento em saúde bucal.
No PPGECS, entre os vários trabalhos orientados por Erika Maciel e Fernando Quaresma - envolvendo comunidades vulneráveis no Tocantins -, os professores sempre buscam direcionar seus alunos orientandos a integrarem pesquisa e extensão. Neste trabalho, por exemplo, realizado pelo então discente do Programa, Luan Lima - atualmente, mestre pelo PPGECS -, o estudo resultou em cadernos educativos para orientar a prática de atividade física e alimentação saudável em comunidades quilombolas do Tocantins.
Pesquisa e extensão com pescadores
Erika conta que, antes mesmo de ingressar como docente na UFT, já desenvolvia pesquisas com colônias de pescadores artesanais no Tocantins. “Ao ser aprovada no concurso de professor efetivo, em 2017, eu dei continuidade àquele trabalho e, ao entrar como docente do PPGECS, foi possível fortalecer ainda mais essas pesquisas”, detalha.
Tendo recebido também o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, o trabalho de pesquisa pôde ser estendido por cinco colônias de pescadores do estado, localizadas em diferentes municípios do entorno do Lago de Palmas.
Mas, na prática, como ocorre este projeto de pesquisa e extensão com as comunidades de pescadores? “Basicamente, o recorte dessas pesquisas com os pescadores é similar ao que desenvolvemos com os quilombolas”, explica a professora Erika. “Avaliamos os indicadores de saúde desses grupos e, a partir dos resultados, conseguimos propor, a eles, atividades de ensino em saúde e em letramento em saúde”, complementa.
Algumas das ações desenvolvidas foram partilhadas, à época, no canal do projeto no Youtube (Educação em Saúde - UFT):
O intuito, assim frisa Erika, é sempre promover a melhoria da percepção da qualidade de vida das pessoas participantes das pesquisas e ações institucionais de extensão, “mesmo diante das barreiras burocráticas que enfrentamos e os baixos investimentos em pesquisa científica, desse porte, na região”, ressalta a pesquisadora.
Neste trabalho recente (2022), por exemplo, intitulado "Educação em Saúde de Pescadores Artesanais para Prevenção de Parasitoses Intestinais", Erika Maciel e outros dois pesquisadores do PPGCES - Antonio Martins e Orcélia Sales - realizaram estudos com pescadores do município ribeirinho de Porto Nacional (TO), a fim de implementarem ações educativas para o combate e controle das parasitoses intestinais naquele grupo de indivíduos.
Neste outro - "Clinical variables considered risk factors for the metabolic syndrome: a cross-sectional study" -, também publicado no ano passado, foram verificados, naquele mesmo grupo de pescadores, os principais fatores de risco para síndrome metabólica - conjunto de condições que inclui excesso de gordura corporal em torno da cintura, nível elevado de açúcar no sangue, hipertensão arterial e níveis de colesterol anormais, e que aumentam o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes. Os resultados do estudo também serviram à promoção de ações educativas de saúde entre a comunidade.
Já num dos estudos ainda mais recentes, "Work-related musculoskeletal disorders in vulnerable populations: what are the most common body parts affected?", publicado em agosto deste ano, os pesquisadores investigaram, junto a colônias de pescadores tocantinenses em Porto Nacional e Ipueiras, lesões músculo-esqueléticas que atingem e impactam a qualidade de vida daqueles trabalhadores, causadas por movimentos repetitivos, má postura, cargas inadequadas, entre outros fatores. Além de a pesca ser tida como uma das atividades mais perigosas do mundo, assim afirma o estudo, pescadores artesanais estão entre os grupos mais vulneráveis em relação às demandas físicas de sua ocupação, sendo bastante suscetíveis a distúrbios osteomusculares inflamatórios e degenerativos.
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