Ei, universitário, vamos falar de saúde mental na universidade?
Como enfrentar a situações de sofrimento mental na Universidade?
Na universidade, mesmo com as dificuldades encontradas por um determinado número de estudantes, é possível enfrentar a situação e garantir que esses acadêmicos tenham uma formação de qualidade, sem a perda da saúde mental. Nesse sentido, tanto a instituição, quanto amigos, colegas e professores podem ajudar. É o que aponta Cristina Fonseca. Segundo ela, se a instituição promover ações que garantam o bem-estar físico dos alunos também estará colaborando com a saúde mental dos mesmos: “Existem várias coisas que influenciam a saúde mental como um todo, desde o ambiente físico até o ambiente organizacional. Quando a Universidade cria um espaço de descanso, um ambiente de convivência que seja agradável e aconchegante, que te dá prazer em estar ali, então quando você entra num lugar que é climatizado, tudo isso colabora com a nossa saúde mental”. Cristina ressalta ainda que a universidade pode atuar também na quebra dos tabus e preconceitos que envolvem o tema (saúde mental) que, por vezes, são as causas dos estudantes não buscarem ajuda: “Então, às vezes, é desmistificar por exemplo algumas questões, porque tudo que envolve saúde mental ainda tem misticismo muito misturado. As pessoas fantasiam tantas coisas que não são condizentes com a realidade. Também faz parte do trabalho orientar no sentido de que o adoecimento não é limitante.”.
Flávia Neves reforça que atividades básicas organizadas pela Universidade podem ajudar os alunos a se sentirem mais acolhidos pelo ambiente universitário: “Eu acho que a gente precisa resgatar e utilizar mais do aspecto lúdico e cultural da Universidade, para além do portão da Universidade. Assim, a gente promove a integração entre a comunidade acadêmica e amplia a rede de contato dos alunos, diminuindo a sensação de solidão”.
Hareli Cecchin, autora da pesquisa que avaliou os estudantes da UFT, destaca que os próprios estudantes entrevistados também apontam que pequenas ações desenvolvidas na Universidade ajudam a baixar a carga emocional. Para ela, equilíbrio é a chave: “Promover uma maior integração da comunidade acadêmica, incentivar os estudantes a praticarem esportes, atividades físicas, uma atividade de lazer. Entender que não é só manter os acadêmicos estudando o dia todo, a noite toda, porque são pessoas que precisam de outras vivências e, às vezes, a gente está impedindo isso.”
Para além do ponto de vista do que a instituição pode fazer, as psicólogas também apontam como os integrantes da comunidade acadêmica podem ajudar. Nesse sentido, demonstrar empatia pelo sofrimento do outro é fundamental: “O primeiro passo é estar presente. Nem sempre conversar vai resolver. Às vezes, o que a pessoa precisa é de alguém que esteja ao lado dela, sem julgar. Porque a nossa mentalidade de conversar é dar sermão. Falar em um tom mais julgador, dizendo ‘não sofra por isso, sua vida é maravilhosa’. O primeiro passo é não tentar dar palestra, desmerecer o sofrimento da pessoa; e se fazer presente, dizer eu estou aqui ao seu lado”, afirma Flávia.
Para Cristina, o segundo passo é orientar o estudante a buscar ajuda: “Ainda existe muito preconceito quanto o ir ao psicólogo, ir ao psiquiatra. Eu sempre falo assim, quando você se machuca e quebra alguma coisa, você vai direto no ortopedista; quando seu carro estraga, você vai direto ao mecânico; mas quando você tem um problema de ordem emocional você vai em mil e quinhentos lugares antes, para depois procurar um profissional. Então, a melhor coisa que a gente tem a fazer é incentivar as pessoas a buscarem um profissional”.
Cristina ressalta também que é importante conscientizar o estudante para a importância de buscar ajuda profissional: “Oferecer ajuda para essa pessoa também é você mostrar para ela que, às vezes, a gente precisa de uma ajuda que não é dos nossos amigos, que não é da nossa família, que não é da igreja. Existe muito aquela frase ‘Ah, isso é falta de Deus!’ E não, não é. O adoecimento não tem correlação com isso. A gente está falando de questões biológicas, a gente está alterando o funcionamento do cérebro. Então, não é falta de Deus, não é falta de acreditar, não é falta de amor, não é isso, a gente está falando de adoecimento e nesses casos toda a ajuda é bem-vinda. A ajuda da igreja é bem-vinda, a ajuda da família é bem-vinda e a ajuda do profissional também é bem-vinda; e é para isso que esses profissionais existem”.
Para Meirilene Mendes, abrir espaços para discutir o tema em sala também pode ajudar: “Sempre que os professores notarem, por exemplo, algum comportamento que ele considera que é preocupante, abrir espaços para essas falas é sempre bem-vindo e se ela não conseguir conduzir essa situação, que ele busque ajuda. Falar sobre a temática, de como buscar ajuda, do quanto é importante o apoio dos pares, o apoio da família. Essas ações de promoção e prevenção em saúde mental, oficinas, palestras, mesas-redondas, são sempre bem-vindas. Na sala de aula, isso tem que ser um conteúdo transversal para o professor, independente da disciplina que ele trabalhe”.
Mel recomenda ainda que, professores, colegas, amigos e familiares ao perceberem que o estudante está emocionalmente abalado e que isso está afetando de alguma forma sua vivência universitária, sensibilize-o a buscar ajuda no seu câmpus. Ela também esclarece que os estudantes não precisam se sentir obrigados a serem bons em tudo: “Infelizmente a gente ainda vive em uma sociedade que valoriza muito a questão da produtividade. E não existe uma pessoa que é 100% em tudo e alguém que é ruim em tudo. É importante reconhecer isso, pois só a partir desse reconhecimento que a pessoa consegue buscar ajuda".
(Continua na próxima quarta-feira, 26)
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